terça-feira, 10 de agosto de 2010

Surfista de Caminhonete

► [ Imagem típica nas rodovias que interligam cidades e garimpos na Amazônia ]

Impressionante, interessante, arriscado. No mínimo, uma imagem ímpar, típica do sub-desenvolvimento. Um homem se equilibra na parte superior da cabine da caminhonete em direção a Jacareacanga.

Normalmente, essas pessoas são braçais, trabalhadores de baixa renda que se arriscam na zona garimpeira. Antes, porém, os riscos começam na porta de casa. Eles engrossam a lista da mão de obra fácil e barata em cidades como Itaituba, Trairão, Novo Progresso, Rurópolis, Placas e outras.

Na dimensão do risco, está a moldagem do caráter e da coragem desses caras. São, em sua maioria, anônimos, que movem o universo econômico do alto de sua humildade. Se arriscam, sim, sem medo. E, a cada investida semelhante, se tornam mais e mais corajosos.

Daqui, eles vão carregar óleo para mover os motores que exploram o garimpo. Eles vão montar as casas de alvenaria dos ‘senhores do ouro’, que dominam as frentes de trabalho. Não são bandidos, são trabalhadores. São pais de família, são jovens de rosto curtido pelo calor que beira o insuportável no interior da selva.

E não há preocupação em se arriscar deste modo. Afinal de contas, sobreviver é preciso, como é preciso manter a família; custear despesas tradicionais, como o pão de cada dia, a vestimenta, escola, a conta da mercearia, a farmácia, a padaria. São homens assim que apostam num progresso, mesmo adverso a esse desenvolvimento, já que a grande maioria mal tem carteira de identidade. O principal documento é a própria feição, moldada pelos sucessivos dias de frio e calor, quentura e umidade na região prometida, que pouco deu em troca.

Nenhum comentário: