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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Capelinha Parte 3 - O coroamento do esforço físico e espiritual

Mauro Torres (E), Joãozinho Prata, Aldonar Prata (Cabano),
Dioney Alves (Billy) e William Torres


A caminhada até a Capelinha de São José da Mata foi dividida em quatro dias, com a média de quatro horas de caminhada por dia. Na primeira etapa, levamos pelo menos quatro horas e meia para chegar ao primeiro acampamento. Aqui, a peregrinação pára e descansa, renovando as energias para retomar a caminhada no dia seguinte. Também estamos acompanhados de pessoas que conhecem a área, além de representantes do Instituto Chico Mendes, organismo responsável pelo gerenciamento do Parque.

Estamos acompanhados da dona Raimunda Pompílio, uma senhora com mais de sessenta anos que caminha pela trilha levando nas mãos um par de muletas. Ela está encarando a caminhada em cumprimento a uma promessa feita há muitos anos, depois que o filho sofreu um acidente e ficou sem andar por vários meses. Só agora foi possível cumprir com a penitência. “Eu vim por toda a caminhada e adorei. Quando acontecer de novo, eu venho de novo. E, sempre que puder, eu vou estar aqui”, garante.

No dia seguinte, chega a hora de retomar o caminho. Pelo percurso, encontramos vários igarapés de águas frias e cristalinas. Por esses locais, os responsáveis pela manutenção da trilha tiveram que criar alternativas para a travessia. Todo cuidado é pouco, para evitar acidentes. Mas tudo transcorre de acordo com o que foi programado. A caminhada, longa e cansativa, se mostrou prazerosa, a ponto de despertar a emoção do grupo. Depois de mais quatro horas, chegamos ao nosso objetivo. Fincada no meio da selva, a uma distância de calculadamente trinta quilômetros, está a Capelinha de São José. Este é um momento especial para os devotos do santo.

Conta a lenda que, há mais de um século, um explorador, que ainda não se sabe se era um religioso ou comerciante, andava por essas bandas, quando, ao chegar à margem de um igarapé, deparou com um animal grande, estranho e assustador. Ele transportava sua carga em mulas, que acabaram por se perder na mata. O homem fez uma promessa a São José, garantindo que, se saísse com vida e encontrasse os animais, retornaria e construiria uma capela. A primeira, construída com barro e talas, foi demolida e, no lugar dela, foi construída esta, em alvenaria, simples, mas muito bonita, do alto de sua simplicidade.

A história foi remontada pelo vereador e católico Raimundo Pimentel, conhecido por “Dico”, é o idealizador da expedição, a romaria que homenageia São José. Devoto, ele mantém a tradição há alguns anos, e pretende levar a idéia adiante, e aumentar o número de romeiros. “É um prazer muito grande. Quando encontrei a capelinha pela primeira vez, eu senti uma emoção muito forte. Eu faço isso com muito gosto. Amo a caminhada, e adoro chegar até aqui”, resume.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Capelinha Parte 2 - Fé católica supera o cansaço físico

A caminhada até a Capelinha de São José da Mata reservou surpresas impressionantes para os aventureiros, que aplicaram vigor físico, muita fé e presença de espírito para enfrentar o percurso de mais de trinta quilômetros. A primeira etapa, projetada para durar cerca de quatro horas, foi um misto de conforto e muita animação, com todos decididos a encarar o desafio sem recuar. Quilômetro a quilômetro, o trajeto foi sendo devorado, tudo em defesa de um objetivo planejado a partir da tradição católica.

→ [ Capelinha de São José, cerca de 30 quilômetros mata adentro, em pleno Parque Nacional da Amazônia ]

Com aproximadamente 1 hora e 40 minutos de caminhada, demos uma parada para descansar. Meia hora antes, tomamos um rápido lanche; comida leve, para não pesar no estômago, reservar energia e evitar o cansaço, que, a esta altura, se apresenta quase insuportável. Mas as belezas naturais da floresta e a própria fé nos move e leva em diante nossa resistência. Vale tudo para manter esse espírito, tão forte e resistente.

Praticamente dentro do tempo previsto, a primeira parte da caminhada encerrou no acampamento conhecido como Pedro Bico, calculadamente quatorze quilômetros do ponto de partida, a margem da rodovia. Aqui, o almoço e os preparativos para uma merecida noite de descanso. E a selva entrou com seus encantos, maravilhas e perigos. É necessário que todos estejam atentos. A área também tem seus riscos, e não é prudente se afastar do grupo, sob o risco de ser atacado por insetos e animais venenosos. Mas existem os destemidos, que querem mais emoção. E a primeira delas vem com uma aranha. Identificado como extremamente perigoso, o pequeno animal fica parado, enquanto é fotografado e filmado pela equipe.

No riacho, enfeitado com rochas, os olhos reluzentes de um jacaré-açú são a primeira surpresa. Maravilhados com a descoberta, passamos horas observando o animal estático, a uma distância segura. No mesmo riacho, estão outras espécies, algumas mais outras menos perigosas. Uma pequena jararaca d´água percebe a presença da equipe e procura se esconder rapidamente. Os pequenos peixes brincam na água corrente, enquanto o caranguejo parece estar dormindo e não dá nem atenção à luz que lhe perturba o sono.

No dia seguinte, os preparativos para retomar a caminhada são interrompidos por uma outra surpresa. Nos arredores do acampamento, foi encontrado um filhote de jacaré-açú, que, sem muito esforço, foi capturado e trazido para ser apresentado ao restante do grupo. O pequeno animal se mostra atento, mas não esboça reação, até porque está imobilizado, e todos querem admirá-lo.

As maravilhas do Parque Nacional da Amazônia se apresentam como companheiras dos peregrinos de São José da Mata. Durante a caminhada, são observados fenômenos que tão somente anos de pesquisa são capazes de explicar. Árvores que caíram e se transformaram em canteiro para fungos e parasitas, que procuram a luz do sol para se desenvolver, se revelando em belas flores, como esta, de um vermelho profundo... As palmeiras trabalham para repor o oxigênio do solo abafado da floresta. Elas estão por todos os lados, em todos os tamanhos, e cada uma assume sua parcela de responsabilidade no bioma Amazônico. Os frutos são muito apreciados por serem ricos em proteínas e vitaminas como o cálcio, além de uma fonte de óleos.

Caminhando mais adiante, a equipe depara com outra surpresa. Uma família de macacos que se alimentava na copa das árvores não parece estar muito disposta a se apresentar, e procura se ocultar na folhagem. São macacos-prego e aranha, variedades presentes na lista dos ameaçados de extinção. Mas esses, pelo menos, estão protegidos.

Neste ano, mais uma vez, a caminhada até a Capelinha de São José se apresentou como uma excelente oportunidade de exercitar a fé e mostrar que o homem tem bem mais potencial do que pensa ou aparenta. Além de uma forma de reconhecer a presença espiritual do Pai do Menino Jesus em nossas vidas, a peregrinação é uma prova de resistência e um verdadeiro expoente do rico potencial que a natureza deu de presente à humanidade.