quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Projeto energético provoca revolta

Lideranças se posicionaram contrárias ao projeto

Em Jacareacanga, índios da etnia Mundurukú em clima de revolta. As aldeias se manifestaram contra um projeto da Eletrobrás/Eletronorte, que prevê a construção de uma usina hidrelétrica no rio teles pires.

A pintura de guerra se manteve escondida por trás da tinta que simboliza a expectativa por uma cerimônia. Arcos e flechas nas mãos dos guerreiros, mostrando um clima de insatisfação. Horas antes da audiência pública coordenada e presidida pelo Ibama, uma reunião entre os índios Mundurukú e o representante da Funai, serviu para mostrar o posicionamento tomado pelas aldeias. Mesmo com os caciques se pronunciando na língua nativa, não era preciso tradução para se ter uma idéia da opinião das lideranças.

O líder indígena Jairo Kõrap, da Associação Extrativista Rio Kabitutu, não só se pronunciou contrário ao projeto, mas também traduziu as declarações contrárias das demais lideranças, a exemplo do capitão da aldeia Teles Pires, João Karikafõ. Atento às declarações dos índios, um representante da Funai permaneceu quieto, atento às declarações dos índios. Quando foi chamado a se pronunciar, explicou que estava ali apenas como expectador, pra acompanhar os questionamentos que seriam apresentados pelas comunidades da área afetada pelo projeto.

Frederico Menezes, representante da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), do Ministério das Minas e Energia, insistiu em que o projeto ocuparia uma pequena parte, pouco mais de 2%, do território de Jacareacanga. Por outrolado, a compensação financeira anual, de R$ 2,4 milhões, que será paga ao município, é superior ao que será pago, por exemplo, ao município de Paranaita, no Matogrosso, que terá uma porção bem maior do seu território, afetada pelo projeto.

A audiência pública iniciou com atraso de mais de cinqüenta minutos e durou quase cinco horas. No evento, foi cedido espaço para todos. Brancos e índios tiveram a oportunidade de se manifestar sobre o projeto, que prevê a construção da usina hidrelétrica na divisa do Pará com o Matogrosso. Entre os indígenas, só este vereador se mostrou parcialmente favorável, mas com algumas condições. Ele defende que o governo poderia ter se antecipado a uma série de problemas enfrentados pelos índios e criado programas de assistência mais eficientes. Os outros índios comandaram as manifestações de revolta, completamente contrários ao projeto. Novamente, a língua nativa tomou espaço, desta vez com tradução. Até mesmo o cacique geral da etnia Mundurukú, Biboi Kaba Mundurukú, foi convidado a se manifestar. Ele convocou seus líderes a acompanhar a sua opinião, naturalmente contrária ao projeto.

Nem mesmo a apresentação detalhada do projeto conseguiu convencer os indígenas. De acordo com a proposta, a usina hidrelétrica será construída dentro de um espaço de 300 metros sobre o rio Teles Pires, alcançando uma área alagada de 152 mil metros quadrados, por uma extensão de 63 quilômetros, com a maioria dentro do estado do Matogrosso, nos municípios de Paranaita e Alta Floresta, onde já foram realizadas audiências públicas. Mas mesmo a linguagem mais simples não surtiu maiores efeitos entre os índios. O prefeito da cidade, Raulien de Oliveira Queiroz, que é servidor licenciado da Funai, foi um dos últimos a tomar a palavra. Ele disse que até concorda com o projeto, mas sugeriu que o governo crie mecanismos que possam permitir a criação de um consórcio, envolvendo os municípios da área de influência da hidrelétrica. “Concordamos, sim, com o projeto. Mas sabemos que haverá impactos, não só ambientais, mas também econômicos e sociais. Impactos positivos e negativos. Por conta disso, sugerimos que seja criado um grupo de trabalho que possa estabelecer um tipo de consórcio, para que todos os municípios que tenham seus territórios afetados, máxima ou minimamente, sejam beneficiados”, resumiu Raulien Queiroz.

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