quarta-feira, 19 de agosto de 2009


Garoto Esperto...

Era um domingo de muito sol. Calor intenso em Santarém, cidade interiorana paraense, onde eu morava havia pouco mais de quatro anos. Era repórter do Sistema Tapajós de Comunicação (TV Tapajós) e do jornal O Impacto. Também já estava contratado como redator e editor-chefe da revista Manchetes, com sede na Mendonça Furtado, ali pertinho da Silvino Pinto.
Neste domingo de muito sol, fiquei na redação da revista por longos quarenta minutos para fechar algumas páginas. Estava ansioso por dar um passeio na orla, espairecer um pouco, respirar o gostoso e puro ar do Tapajós. Saí por volta das 16h30, mas, antes de ir à orla, passei num mercantil, comprei um maço de cigarros e peguei o troco em pirulitos, três para ser exato.
Legal quando cheguei à orla. Várias pessoas pescando com vara, pegando charutos, pacus e acará-tingas. Fiquei por lá, apreciando a destreza de uns pescadores e os vacilos de outros, coitados que não conseguiam pegar nem gripe.
Passando por um dos bancos, vi duas crianças sentadas e ofereci os pirulitos a elas. Com o consentimento do pai, a quem eu conhecia, as crianças pegaram os dois pirulitos, enquanto eu fiquei com o último no bolso da bermuda. Ah, eu estava de camisa gola pólo, bermuda jeans e um sapato baixo, deste tipo esporte, meio despojado mesmo. Despedi-me da pequena família e me retirei, ficando recostado ao corrimão do passeio da orla, quando chegou a mim um rapazinho com uma caixa de engraxate às costas.
- Vai uma graxa aí, tio? Um real...!
- Não, filho, obrigado.
- Só uma graxinha, tio. Cinquenta centavos...
- Deixa pra outra vez, filho. Estou sem moeda.
- E o que é isso no seu bolso?
O rapazinho observou o pequeno volume no meu bolso e sua curiosidade se elevou. “É um pirulito, rapaz”.
- E pra quê que o senhor quer um pirulito?
Tive que criar uma desculpa qualquer naquele momento, para não ser arredio com a criança. “É que eu sou fumante, entende? Eu fumo. Mas estou tentando parar. Então, quando me vem a vontade, eu coloco o pirulito na boca e esqueço o cigarro”...
- Ah, tá. O senhor sabia que eu também fumo?
Espantei-me com isso. E perguntei ao jovem com que idade ele estava. “Doze anos, por quê?”.
- Rapaz, você, com doze anos, já fuma?
Então, ele tascou: “Sim, senhor, eu fumo. Mas eu também quero parar de fumar. O senhor me dá o pirulito?”
Olhei pro molecote, dei um sorriso e entreguei-lhe o pirulito. Ele mereceu!!!

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